Dançando na Varanda é a autobiografia de Nicole Ayres
O livro retrata período em que a autora ficou internada e um hospital psiquiátrico após surto
Quando recebi o livro da Nicole Ayres, em casa, me surpreendi com a sinopse que avisava ser uma autobiografia de um período difícil da vida da autora: uma internação em um hospital psiquiátrico. Muito provavelmente o meu lado psicanalista se envolveu com a história porque ela estava falando de um surto psicótico e logo quis lê-lo.
Para não dar spoiler sobre o motivo de o título ser “Dançando na Varanda”, eu prefiro ir para a metáfora que eu entendi e daí me fez lembrar de uma frase de Nietzsche que é mais ou menos assim “Tenha o caos dentro de si e darás à luz a uma estrela dançarina”. Acho que é isso que a Nicole desejou passar nessa bela história que cativa e prende o leitor desde o começo: por mais que a vida esteja te derrubando, levanta e vai lá dançar porque você ainda está viva e pode escolher enxergar a vida com outros olhos, talvez um olhar mais acolhedor para os seus problemas.
Eu confesso que tentei quanto pude não dar uma de investigadora da estrutura da Nicole e não quis ficar me apegando à escrita quanto a possíveis tentativas (já falhas) de algum diagnóstico. Mas, foi tentador ler as páginas e não pensar que às vezes indicava uma neurose histérica ou quem sabe o que eu estava lendo era mesmo delírios psicóticos? Logo quis sair dessa porque eu não sou a analista da autora e se eu fizesse isso, comprometeria a minha resenha. Ainda bem que não fui a fundo nisso e consegui me ater somente ao que a Nicole estava me dizendo tão brilhantemente e sem nenhum pudor. Em suas verdades, ela foi tão sincera e despida de medos de julgamentos que eu acho que a sua vida daria um filme.
Com certeza os relatos são de tirar o fôlego. Só de imaginar estar em um hospital psiquiátrico e precisando de ajuda, eu já fico pensante o quanto deve ser angustiante não se ter tantas informações, precisar conhecer pessoas novas e criar elos, amizades… Que bom que foi de um jeito leve o quanto possível com a autora.
Mas, o leitor deve estar se perguntando como foi que ela parou num hospital psiquiátrico…
Após alguns traumas e perdas sucessivas. Na verdade, a autora não aguentou tantas coisas acontecendo em um curto espaço de tempo. Pode acontecer com qualquer um de nós, de uma forma ou de outra, mas pode. Vale lembrar que Nicole é uma profissional brilhante, uma professora de francês e estudante eterna de Literatura, sempre valorizou a pesquisa e os estudos. É um personagem digno de ser lido por todos. Vale muito a leitura!
Meus trechos favoritos:
“Nada passa batido, tudo passa batendo. E não canso de apanhar. Isso é um dom. Às vezes parece uma maldição. Tenho que cavar muito fundo pra encontrar meu tesouro, e as mãos me doem, sangrando, em carne viva. Não posso ver um abismo que já quero me jogar. Atropelo todo mundo que tenta me segurar. Em queda livre, descubro que tenho asas. Porém, isso não me impede de me ferir”. (página 13)
“A gente vive. E aceita que a realidade nem sempre vai corresponder aos nossos sonhos dourados, que nem todos os amores vão te render páginas de um belo romance, mas todos vão nos ensinar alguma coisa. A gente vive e se adapta e aprender e melhora e é feliz ao nosso modo, dentro de nossas possibilidades. A gente deixa de ser criança mimada fazendo birra porque não consegue ter o que quer, deixa de culpar o outro pelos nossos fracassos e se responsabiliza pela nossa própria história”. (página 44)
FICHA TÉCNICA:
Título: Dançando na Varanda
Autora: Nicole Ayres
Gênero: autobiografia
Editora: Flyve
ISBN: 978-65-00-39275-3
113 páginas